sábado, 18 de maio de 2013

O sacrifício de Isaac e a sociedade atual que mata os jovens...


Eu tenho um texto de 2006 em que eu digo que a sociedade está cobrando um preço alto dos jovens: violência, drogas, desemprego, etc. E comparo com a adaga de Abrãao sobre o seu filho Isaac. A diferença é que Abraão nao matou seu filho em nome da religião que ele cria agradável a Deus: na última hora um mensageiro divino mostra a verdadeira vontade do Senhor. 
A atual sociedade idólatra de consumo sacrifica sim os jovens em nome de sua manutenção. Veja o texto abaixo:

13/05/2013 - 02h30

Análise: Nova classe ociosa: jovens americanos

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DAVID LEONHARDT
DO "NEW YORK TIMES", EM WASHINGTON
The New York Times
O jovem europeu ocioso, sem trabalho por causa da disfunção do continente, é um dos personagens típicos da economia global. Mas talvez esteja na hora de acrescentar outro protagonista, ainda mais comum: o jovem americano ocioso.
Nos últimos 12 anos, os EUA passaram da mais alta à mais baixa porcentagem de jovens de 25 a 34 anos empregados, entre as grandes economias ricas.
A mudança sombria -"uma reviravolta histórica", segundo Robert A. Moffitt, um economista da Universidade Johns Hopkins em Maryland- deriva de dois aspectos da longa recessão econômica. Primeiro, ela cobrou o preço mais alto dos jovens. E, enquanto a economia americana voltou mais robusta que algumas de suas rivais globais em termos de produção total, a recuperação foi discreta em geração de empregos. As empresas americanas estão fazendo mais com menos.
Os empregadores relutam em contratar novos funcionários. As demissões foram reduzidas, com exceção dos piores meses da crise financeira, mas também a geração de empregos, e ninguém depende tanto de novos empregos quanto os jovens.
Para muitas pessoas com empregos e poupanças, a economia finalmente está se movendo na direção certa. Os salários médios não estão mais atrás da inflação. As ações subiram desde o piso de 2009, e os preços dos imóveis aumentam de novo. Mas pouco disso ajuda os jovens adultos a tentar pôr o pé na economia.
Segundo o Departamento do Trabalho, os trabalhadores entre 25 e 34 anos são a única faixa com salários médios mais baixos no início de 2013 do que em 2000.
Em 2011, o ano mais recente para o qual existem comparações internacionais, 26,6% dos americanos entre 25 e 34 anos não estavam trabalhando. A porcentagem era de 20,2% no Canadá, 20,5% na Alemanha, 21% no Japão, 21,6% na Grã-Bretanha e 22% na França. Em 2000, em contraste, os Estados Unidos lideraram Alemanha, Grã-Bretanha, França, Canadá e Japão -assim como Austrália, Rússia e Suécia- nesses índices de emprego. Hoje estão atrás de todos eles.
Os EUA perderam sua antiga grande vantagem na produção de graduados universitários, e a educação continua sendo a mais bem-sucedida estratégia de empregos em uma economia globalizada e forte em tecnologia. Os lugares mais educados do país, como Boston, Minneapolis e Washington, têm altos índices de emprego, enquanto os menos educados têm baixos. O índice de desemprego oficial para graduados universitários de 25 a 34 anos continua em apenas 3,3%.
O país também tem sido menos agressivo que alguns outros em usar aconselhamento e retreinamento para ajudar os desempregados a encontrar trabalho. Um estudo recente feito na França por economistas do Instituto de Tecnologia de Massachusetts revelou que programas de colocação para desempregados ajudavam não apenas os trabalhadores, mas também a economia. Os trabalhadores aconselhados tinham maior probabilidade de encontrar trabalho, e não simplesmente tiravam os empregos de outros candidatos.
Outra pesquisa nota que os Estados Unidos expandiram a licença parental e o trabalho em tempo parcial menos que outros países -e talvez isso esteja relacionado à queda dos índices de emprego entre as mulheres.
Seja qual for o papel dessas tendências, elas não parecem explicar o declínio do emprego. As empresas existentes não estão criando empregos no mesmo ritmo de antes, e novas empresas não se formam tão rapidamente.
O que poderia ajudar? Facilitar as partes do entramado regulatório que não têm benefícios sociais. Oferecer financiamento público para pesquisa científica em fase inicial e infraestrutura física que o setor privado muitas vezes acha não rentável. Em longo prazo, nada provavelmente será mais importante que melhorar a realização educacional.
Talvez o aspecto mais notável da queda dos empregos seja que os americanos na faixa dos 20 e 30 anos que foram mais afetados por ela continuam decididamente entusiasmados. Eles têm muito mais esperança que as gerações mais antigas, segundo pesquisas, de que o futuro do país será melhor que o passado. Essa resiliência é impressionante -e necessária. A redução dos empregos não vai terminar sem uma grande dose de otimismo.

Um comentário:

Fernando Rezende disse...

É legítima e verdadeira a afirmação de que a sociedade de consumo sacrifica os jovens em nome de seus interesses. Aos jovens podemos associar outros grupos igualmente oferecidos nos altares dos deuses da modernidade, como as mulheres, os negros, os pobres em geral... Nossa sociedade é sacrificial. Às religiões cabem boa parcela de responsabilidade quanto a isso. Nosso Cristianismo é sacrificial. Pelo menos, a Igreja adotou oficialmente a teologia do sacrifício: Deus exige a vida de Seu Filho como preço da salvação humana. Se a religião dominante diz isso, a sociedade fica mais que à vontade para práticas sacrificiais em benefício de si mesma. É claro que muitos teólogos (Leonardo Boff entre muitos) contestam essa visão, mas estes também são imolados aos deuses sedentos. Vale a pena conferir, por exemplo, o texto de Jung Mo Sung numa série de artigos sobre o "Cristianismo de Libertação" (http://www.adital.org.br/site/noticia.asp?lang=PT&langref=PT&cod=54788), em que o autor avalia exatamente esse caráter sacrificial da nossa sociedade e a responsabilidade do cristianismo frente a isso.