domingo, 26 de dezembro de 2010

Férias com Deus

http://www.paideamor.com.br/artigos1/artigo37.htm , 22 de dezembro de 2010.


 

As férias com Deus e não de Deus

 
 

 Nas primeiras páginas da Bíblia vemos um fato que não pode passar despercebido para quem pensa neste assunto. Vemos ali como Deus nos apresenta, pelo exemplo, o que deveria ser nossa atitude para com o trabalho e o descanso. "No sétimo dia Deus já havia concluído a obra que realizara, e nesse dia descansou. Abençoou Deus o sétimo dia e o santificou, porque nele descansou de toda a obra que realizara na criação."
(Gn 2,2.3). Deus não nos dá um exemplo de alguém que busca sombra e água fresca, Deus trabalhara muito fazendo com que a criação toda chegasse à existência. Mesmo que não precisasse tanto como nós de descanso após um esforço intenso, Deus nos mostra que o descanso tem o seu lugar. E mais ainda, Deus abençoa este dia e o santifica. Mesmo sendo muito dedicado e esforçado, mesmo que não seja preguiçoso, Deus também não está viciado em trabalho e proporciona a si mesmo um momento de descanso.

O primeiro ensinamento a respeito de descanso e férias é dado pelo exemplo de Deus, logo após a criação. Mas logo em seguida, nas próximas páginas da Bíblia, encontramos uma palavra de Deus a respeito, em forma de ordenação. "Lembra-te do dia de sábado, para santificá-lo. Trabalharás seis dias e neles farás todos os teus trabalhos, mas o sétimo dia é o sábado dedicado ao SENHOR, o teu Deus. Nesse dia não farás trabalho algum, nem tu, nem teus filhos ou filhas, nem teus servos ou servas, nem teus animais, nem os estrangeiros que morarem em tuas cidades" (Ex 20,8-10).

Certamente Deus não faz nada sem propósito. Se ele ordena que descansemos no sétimo dia então, além de usarmos este dia para a glória do criador, Deus está consciente do fato de precisarmos regularmente do descanso. O NT nos diz que o nosso corpo é o templo de Espírito Santo. Diante disto é difícil de imaginar que Deus queira para si um templo que está cansado e exausto. Isto não seria um lugar agradável para morar.

Virando várias páginas da Bíblia chegamos ao NT. Ali deparamos com um fato bem interessante com relação ao descanso e por que não dizer, às férias. "Os apóstolos reuniram-se a Jesus e lhe relataram tudo o que tinham feito e ensinado. Havia muita gente indo e vindo, a ponto de eles não terem tempo para comer. Jesus lhes disse: "Venham comigo para um lugar deserto e descansem um pouco"
(Mc 6,30.31). Os apóstolos acabam de retornar de um esforço missionário. Além disso recebem a notícia de que João Batista fora decapitado. O movimento em torno de Jesus está tão intenso que nem mesmo há condições para alimentação adequada. Apesar do sucesso do seu ministério Jesus está consciente que precisa prevenir o "stress" que poderia ser o resultado de atividades tão intensas.

Ainda outro assunto é discutido na Bíblia e bem destacado. Já líamos em Êxodo 20 que todos da unidade doméstica estariam incluídos no descanso regular semanal. Interessante notar ali também, que inclusive os animais não deveriam fazer tarefa alguma no dia do descanso. Isto fez com que me dei conta que Deus prevê o descanso para a natureza. Veja, por exemplo, o que lemos em Levítico 25,2-5 "Diga o seguinte aos israelitas: Quando vocês entrarem na terra que lhes dou, a própria terra guardará um sábado para o SENHOR. Durante seis anos semeiem as suas lavouras, aparem as suas vinhas e façam a colheita de suas plantações. Mas no sétimo ano a terra terá um sábado de descanso, um sábado dedicado ao SENHOR. Não semeiem as suas lavouras, nem aparem as suas vinhas". Assim como os homens e os animais precisam de descanso, a natureza também precisa da mesma e Deus já o estabeleceu assim junto ao seu povo.

Há mais um momento na vida de Jesus que merece a nossa atenção neste contexto. Mesmo que anteriormente Jesus estimulara o descanso, levara os discípulos a uma viagem de recreação, Jesus aponta agora que também pode ocorrer descanso em hora errada. Ele diz aos seus seguidores ali no Monte das Oliveiras o seguinte: "Vocês ainda dormem e descansam? Basta! Chegou a hora! Eis que o Filho do homem está sendo entregue nas mãos dos pecadores" (Mc 14:41). Há momentos que não comportam descanso e ócio, é preciso adotar uma atitude bem diferente. Na realidade não se pode indicar os momentos não apropriados para o descanso, mas certamente teremos a devida orientação por parte de Deus a respeito desta questão.

É mais do que evidente que em nossos dias realmente precisamos de férias, precisamos de descanso e precisamos recarregar as nossas baterias. O nosso esgotamento ocorre nas três áreas que já indicamos anteriormente: física, mental e espiritual. Muitas vezes somos exigidos de forma tão vigorosa fisicamente que o corpo fica arrasado. Isto tem conseqüências sobre a mente e certamente também sobre a parte espiritual.

Outras vezes, e isto depende da nossa atividade, a mente é exigida tanto que afeta o corpo também e em conseqüência o nosso espírito. Já outras atividades exigem tanto do "coração e do espírito", deixando-nos arrasados nesta área. Mas está exausto, este cansaço também afeta o corpo e a mente. Mesmo que teoricamente funcionamos em áreas, nós formamos um todo e o todo sofre com dificuldades em uma ou outra área.

Dentro deste raciocínio deve-se ter uma inquietação: nossas férias facilmente se tornam o momento ou o período em que nós também damos férias a Deus. As coisas parecem estar tão perfeitas e gostosas que não precisamos de Deus. Ou então dormimos tanto pela manhã para já não haver mais tempo para um período de oração antes de irmos aos passeios. Por outro lado estes passeios nos cansam tanto que à tarde temos que ter aquela soneca gostosa. À noite, muitas vezes, acontece alguma festa junto com amigos ou parentes que estão no mesmo lugar e a hora fica avançada demais para ainda termos tempo para Deus. Dentro desta linha uma pergunta: Será que Deus aprovaria o fato de darmos, em nossas férias, férias também a Deus?


 


 

Obs.: Achei este artigo na internet, num página de Portugal, mas gostei muito... Vc gostou Tb?

sábado, 25 de dezembro de 2010

Benção URBI ET ORBI e mensagem de Natal do Papa Bento 16

Bênção Urbi et Orbi e Mensagem de Natal de Bento XVI - 2010


Boletim da Sala de Imprensa da Santa Sé

"Verbum caro factum est – o Verbo fez-Se carne" (Jo 1, 14).

Queridos irmãos e irmãs, que me ouvis em Roma e no mundo inteiro, é com alegria que vos anuncio a mensagem do Natal: Deus fez-Se homem, veio habitar no meio de nós. Deus não está longe: está perto, mais ainda, é o "Emanuel", Deus conosco. Não é um desconhecido: tem um rosto, o rosto de Jesus.

Trata-se de uma mensagem sempre nova, que não cessa de surpreender, porque ultrapassa a nossa esperança mais ousada. Sobretudo porque não se trata apenas de um anúncio: é um acontecimento, um fato sucedido, que testemunhas credíveis viram, ouviram, tocaram na Pessoa de Jesus de Nazaré! Permanecendo com Ele, observando os seus atos e escutando as suas palavras, reconheceram em Jesus o Messias; e, ao vê-Lo ressuscitado, depois que fora crucificado, tiveram a certeza de que Ele, verdadeiro homem, era simultaneamente verdadeiro Deus, o Filho unigênito vindo do Pai, cheio de graça e de verdade (cf. Jo 1, 14).

"O Verbo fez-Se carne". Fitando esta revelação, ressurge uma vez mais em nós a pergunta: Como é possível? O Verbo e a carne são realidades opostas entre si; como pode a Palavra eterna e onipotente tornar-se um homem frágil e mortal? Só há uma resposta possível: o Amor. Quem ama quer partilhar com o amado, quer estar-lhe unido, e a Sagrada Escritura apresenta-nos precisamente a grande história do amor de Deus pelo seu povo, com o ponto culminante em Jesus Cristo.

Na realidade, Deus não muda: mantém-se fiel a Si mesmo. Aquele que criou o mundo é o mesmo que chamou Abraão e revelou o seu próprio Nome a Moisés: Eu sou Aquele que sou… o Deus de Abraão, de Isaac e de Jacó… Deus misericordioso e compassivo, cheio de amor e fidelidade (cf. Ex 3, 14-15; 34, 6). Deus não muda: Ele é Amor, desde sempre e para sempre. Em Si mesmo, é Comunhão, Unidade na Trindade, e cada obra e palavra sua tem em vista a comunhão. A encarnação é o ápice da criação. Quando no ventre de Maria, pela vontade do Pai e a ação do Espírito Santo, se formou Jesus, Filho de Deus feito homem, a criação atingiu o seu vértice. O princípio ordenador do universo, o Logos, começava a existir no mundo, num tempo e num espaço.

"O Verbo fez-Se carne". A luz desta verdade manifesta-se a quem a acolhe com fé, porque é um mistério de amor. Somente aqueles que se abrem ao amor, são envolvidos pela luz do Natal. Assim sucedeu na noite de Belém, e assim é hoje também. A encarnação do Filho de Deus é um acontecimento que se deu na história, mas ao mesmo tempo ultrapassa-a. Na noite do mundo, acende-se uma luz nova, que se deixa ver pelos olhos simples da fé, pelo coração manso e humilde de quem espera o Salvador. Se a verdade fosse apenas uma fórmula matemática, em certo sentido impor-se-ia por si mesma. Mas, se a Verdade é Amor, requer a fé, o "sim" do nosso coração.

E que procura, efetivamente, o nosso coração, senão uma Verdade que seja Amor? Procura-a a criança, com as suas perguntas tão desarmantes e estimuladoras; procura-a o jovem, necessitado de encontrar o sentido profundo da sua própria vida; procuram-na o homem e a mulher na sua maturidade, para orientar e sustentar os compromissos na família e no trabalho; procura-a a pessoa idosa, para levar a cumprimento a existência terrena.

"O Verbo fez-Se carne". O anúncio do Natal é luz também para os povos, para o caminho coletivo da humanidade. O "Emanuel", Deus conosco, veio como Rei de justiça e de paz. O seu Reino – bem o sabemos – não é deste mundo, e todavia é mais importante do que todos os reinos deste mundo. É como o fermento da humanidade: se faltasse, definhava a força que faz avançar o verdadeiro progresso, o impulso para colaborar no bem comum, para o serviço desinteressado do próximo, para a luta pacífica pela justiça. Acreditar em Deus, que quis compartilhar a nossa história, é um constante encorajamento a comprometer-se com ela, inclusive no meio das suas contradições; é motivo de esperança para todos aqueles cuja dignidade é ofendida e violada, porque Aquele que nasceu em Belém veio para libertar o homem da raiz de toda a escravidão.

A luz do Natal resplandeça novamente naquela Terra onde Jesus nasceu, e inspire Israelitas e Palestinos na busca de uma convivência justa e pacífica. O anúncio consolador da vinda do Emanuel mitigue o sofrimento e console nas suas provas as queridas comunidades cristãs do Iraque e de todo o Oriente Médio, dando-lhes conforto e esperança no futuro e animando os Responsáveis das nações a uma efetiva solidariedade para com elas. O mesmo suceda também em favor daqueles que, no Haiti, ainda sofrem com as consequências do terremoto devastador e com a recente epidemia de cólera. Igualmente não sejam esquecidos aqueles que, na Colômbia e na Venezuela, mas também na Guatemala e na Costa Rica, sofreram recentemente calamidades naturais.

O nascimento do Salvador abra perspectivas de paz duradoura e de progresso autêntico para as populações da Somália, do Darfour e da Costa do Marfim; promova a estabilidade política e social em Madagáscar; leve segurança e respeito dos direitos humanos ao Afeganistão e Paquistão; encoraje o diálogo entre a Nicarágua e a Costa Rica; favoreça a reconciliação na Península Coreana.

A celebração do nascimento do Redentor reforce o espírito de fé, de paciência e de coragem nos fiéis da Igreja na China continental, para que não desanimem com as limitações à sua liberdade de religião e de consciência e, perseverando na fidelidade a Cristo e à sua Igreja, mantenham viva a chama da esperança. O amor do "Deus conosco" dê perseverança a todas as comunidades cristãs que sofrem discriminação e perseguição, e inspire os líderes políticos e religiosos a empenharem-se pelo respeito pleno da liberdade religiosa de todos.

Queridos irmãos e irmãs, "o Verbo fez-Se carne", veio habitar no meio de nós, é o Emanuel, o Deus que Se aproximou de nós. Contemplemos, juntos, este grande mistério de amor; deixemos o coração iluminar-se com a luz que brilha na gruta de Belém! Boas-festas de Natal para todos!


Texto da homilia de Bento 16 no natal 2010

Sábado, 25 de Dezembro de 2010
Homilia do Santo Padre na Noite de Natal (texto integral)
Amados irmãos e irmãs!

«Tu és meu filho, Eu hoje te gerei» – com estas palavras do Salmo segundo, a Igreja dá início à liturgia da Noite Santa. Ela sabe que esta frase pertencia, originariamente, ao rito da coroação do rei de Israel. O rei, que por si só é um ser humano como os outros homens, torna-se «filho de Deus» por meio do chamamento e entronização na sua função: trata-se de uma espécie de adopção por parte de Deus, uma acta da decisão, pela qual Ele concede a este homem uma nova existência, atraindo-o para o seu próprio ser. De modo ainda mais claro, a leitura tirada do profeta Isaías, que acabámos de ouvir, apresenta o mesmo processo numa situação de tribulação e ameaça para Israel: «Um menino nasceu para nós, um filho nos foi concedido. Tem o poder sobre os ombros» (9, 5). A entronização na função régia é como um novo nascimento. E, precisamente como recém-nascido por decisão pessoal de Deus, como menino proveniente de Deus, o rei constitui uma esperança. O futuro assenta sobre os seus ombros. É o detentor da promessa de paz. Na noite de Belém, esta palavra profética realizou-se de um modo que, no tempo de Isaías, teria ainda sido inimaginável. Sim, agora Aquele sobre cujos ombros está o poder é verdadeiramente um menino. N’Ele aparece a nova realeza que Deus institui no mundo. Este menino nasceu verdadeiramente de Deus. É a Palavra eterna de Deus, que une mutuamente humanidade e divindade. Para este menino, são válidos os títulos de dignidade que lhe atribui o cântico de coroação de Isaías: Conselheiro admirável, Deus forte, Pai para sempre, Príncipe da paz (9, 5). Sim, este rei não precisa de conselheiros pertencentes aos sábios do mundo. Em Si mesmo traz a sapiência e o conselho de Deus. Precisamente na fragilidade de menino que é, Ele é o Deus forte e assim nos mostra, face aos pretensiosos poderes do mundo, a fortaleza própria de Deus.

Na verdade, as palavras do rito da coroação em Israel não passavam de palavras rituais de esperança, que de longe previam um futuro que haveria de ser dado por Deus. Nenhum dos reis, assim homenageados, correspondia à subliminidade de tais palavras. Neles, todas as expressões sobre a filiação de Deus, sobre a entronização na herança dos povos, sobre o domínio das terras distantes (Sal 2, 8) permaneciam apenas presságio de um futuro – como se fossem painéis sinalizadores da esperança, indicações apontando para um futuro que então era ainda inconcebível. Assim o cumprimento da palavra, que tem início na noite de Belém, é ao mesmo tempo imensamente maior e – do ponto de vista do mundo – mais humilde do que a palavra profética deixava intuir. É maior, porque este menino é verdadeiramente Filho de Deus, é verdadeiramente «Deus de Deus, Luz da Luz, gerado, não criado, consubstancial ao Pai». Fica superada a distância infinita entre Deus e o homem. Deus não Se limitou a inclinar o olhar para baixo, como dizem os Salmos; Ele «desceu» verdadeiramente, entrou no mundo, tornou-Se um de nós para nos atrair a todos para Si. Este menino é verdadeiramente o Emanuel, o Deus-connosco. O seu reino estende-se verdadeiramente até aos confins da terra. Na imensidão universal da Sagrada Eucaristia, Ele verdadeiramente instituiu ilhas de paz. Em todo o lado onde ela é celebrada, temos uma ilha de paz, daquela paz que é própria de Deus. Este menino acendeu, nos homens, a luz da bondade e deu-lhes a força para resistir à tirania do poder. Em cada geração, Ele constrói o seu reino a partir de dentro, a partir do coração. Mas é verdade também que «o bastão do opressor» não foi quebrado. Também hoje marcha o calçado ruidoso dos soldados e temos ainda incessantemente a «veste manchada de sangue» (Is 9, 3-4). Assim faz parte desta noite o júbilo pela proximidade de Deus. Damos graças porque Deus, como menino, Se confia às nossas mãos, por assim dizer mendiga o nosso amor, infunde a sua paz no nosso coração. Mas este júbilo é também uma prece: Senhor, realizai totalmente a vossa promessa. Quebrai o bastão dos opressores. Queimai o calçado ruidoso. Fazei com que o tempo das vestes manchadas de sangue acabe. Realizai a promessa de «uma paz sem fim» (Is 9, 6). Nós Vos agradecemos pela vossa bondade, mas pedimos-Vos também: mostrai a vossa força. Instituí no mundo o domínio da vossa verdade, do vosso amor – o «reino da justiça, do amor e da paz».

«Maria deu à luz o seu filho primogénito» (Lc 2, 7). Com esta frase, São Lucas narra, de modo absolutamente sóbrio, o grande acontecimento que as palavras proféticas, na história de Israel, tinham com antecedência vislumbrado. Lucas designa o menino como «primogénito». Na linguagem que se foi formando na Sagrada Escritura da Antiga Aliança, «primogénito» não significa o primeiro de uma série de outros filhos. A palavra «primogénito» é um título de honra, independentemente do facto se depois se seguem outros irmãs e irmãs ou não. Assim, no Livro do Êxodo, Israel é chamado por Deus «o meu filho primogénito» (Ex 4, 22), exprimindo-se deste modo a sua eleição, a sua dignidade única, o particular amor de Deus Pai. A Igreja nascente sabia que esta palavra ganhara uma nova profundidade em Jesus; que n’Ele estão compendiadas as promessas feitas a Israel. Assim a Carta aos Hebreus chama Jesus «o primogénito» simplesmente para O qualificar, depois das preparações no Antigo Testamento, como o Filho que Deus manda ao mundo (cf. Heb 1, 5-7). O primogénito pertence de maneira especial a Deus, e por isso – como sucede em muitas religiões – devia ser entregue de modo particular a Deus e resgatado com um sacrifício de substituição, como São Lucas narra no episódio da apresentação de Jesus no templo. O primogénito pertence a Deus de modo particular, é por assim dizer destinado ao sacrifício. No sacrifício de Jesus na cruz, realiza-se de uma forma única o destino do primogénito. Em Si mesmo, Jesus oferece a humanidade a Deus, unindo o homem e Deus de uma maneira tal que Deus seja tudo em todos. Paulo, nas Cartas aos Colossenses e aos Efésios, ampliou e aprofundou a ideia de Jesus como primogénito: Jesus – dizem-nos as referidas Cartas – é o primogénito da criação, o verdadeiro arquétipo segundo o qual Deus formou a criatura-homem. O homem pode ser imagem de Deus, porque Jesus é Deus e Homem, a verdadeira imagem de Deus e do homem. Ele é o primogénito dos mortos: dizem-nos ainda aquelas Cartas. Na Ressurreição, atravessou o muro da morte por todos nós. Abriu ao homem a dimensão da vida eterna na comunhão com Deus. Por fim, é-nos dito: Ele é o primogénito de muitos irmãos. Sim, agora Ele também é o primeiro duma série de irmãos, isto é, o primeiro que inaugura para nós a vida em comunhão com Deus. Cria a verdadeira fraternidade: não a fraternidade, deturpada pelo pecado, de Caim e Abel, de Rómulo e Remo, mas a fraternidade nova na qual somos a própria família de Deus. Esta nova família de Deus começa no momento em que Maria envolve o «primogénito» em faixas e O reclina na manjedoura. Supliquemos-Lhe: Senhor Jesus, Vós que quisestes nascer como o primeiro de muitos irmãos, dai-nos a verdadeira fraternidade. Ajudai-nos a tornarmo-nos semelhantes a Vós. Ajudai-nos a reconhecer no outro que tem necessidade de mim, naqueles que sofrem ou estão abandonados, em todos os homens, o vosso rosto, e a viver, juntamente convosco, como irmãos e irmãs para nos tornarmos uma família, a vossa família.

No fim, o Evangelho de Natal narra-nos que uma multidão de anjos do exército celeste louvava a Deus e dizia: «Glória a Deus nas alturas, e paz na terra aos homens que Ele ama» (Lc 2, 14). A Igreja ampliou este louvor que os anjos entoaram à vista do acontecimento da Noite Santa, fazendo dele um hino de júbilo sobre a glória de Deus. «Nós Vos damos graças por vossa imensa glória». Nós Vos damos graças pela beleza, pela grandeza, pela bondade de Deus, que, nesta noite, se tornam visíveis para nós. A manifestação da beleza, do belo, torna-nos felizes sem que devamos interrogar-nos sobre a sua utilidade. A glória de Deus, da qual provém toda a beleza, faz explodir em nós o deslumbramento e a alegria. Quem vislumbra Deus, sente alegria; e, nesta noite, vemos algo da sua luz. Mas a mensagem dos anjos na Noite Santa também fala dos homens: «Paz aos homens que Ele ama». A tradução latina desta frase, que usamos na Liturgia e remonta a São Jerónimo, interpreta diversamente: «Paz aos homens de boa vontade». Precisamente nos últimos decénios, esta expressão «os homens de boa vontade» entrou de modo particular no vocabulário da Igreja. Mas qual é a tradução justa? Devemos ler, juntas, as duas versões; só assim compreendemos rectamente a frase dos anjos. Seria errada uma interpretação que reconhecesse apenas o agir exclusivo de Deus, como se Ele não tivesse chamado o homem a uma resposta livre e amorosa. Mas seria errada também uma resposta moralizante, segundo a qual o homem com a sua boa vontade poder-se-ia, por assim dizer, redimir a si próprio. As duas coisas andam juntas: graça e liberdade; o amor de Deus, que nos precede e sem o qual não O poderemos amar, e a nossa resposta, que Ele espera e até no-la suplica no nascimento do seu Filho. O entrelaçamento de graça e liberdade, o entrelaçamento de apelo e resposta não podemos dividi-lo em partes separadas uma da outra. Ambas estão indivisivelmente entrançadas entre si. Assim esta frase é simultaneamente promessa e apelo. Deus precedeu-nos com o dom do seu Filho. E, sempre de novo e de forma inesperada, Deus nos precede. Não cessa de nos procurar, de nos levantar todas as vezes que o necessitamos. Não abandona a ovelha extraviada no deserto, onde se perdeu. Deus não se deixa confundir pelo nosso pecado. Sempre de novo recomeça connosco. Todavia espera que amemos juntamente com Ele. Ama-nos para que nos seja possível tornarmo-nos pessoas que amam juntamente com Ele e, assim, possa haver paz na terra.

Lucas não disse que os anjos cantaram. Muito sobriamente, escreve que o exército celeste louvava a Deus e dizia: «Glória a Deus nas alturas…» (Lc 2, 13-14). Mas desde sempre os homens souberam que o falar dos anjos é diverso do dos homens; e que, precisamente nesta noite da jubilosa mensagem, tal falar foi um canto no qual brilhou a glória sublime de Deus. Assim, desde o início, este canto dos anjos foi entendido como música vinda de Deus, mais ainda, como convite a unirmo-nos ao canto com o coração em júbilo pelo facto de sermos amados por Deus. Diz Santo Agostinho: Cantare amantis est – cantar é próprio de quem ama. Assim ao longo dos séculos, o canto dos anjos tornou-se sempre de novo um canto de amor e de júbilo, um canto daqueles que amam. Nesta hora, associemo-nos, cheios de gratidão, a este cantar de todos os séculos, que une céu e terra, anjos e homens. Sim, Senhor, nós Vos damos graças por vossa imensa glória. Nós Vos damos graças pelo vosso amor. Fazei que nos tornemos cada vez mais pessoas que amam juntamente convosco e, consequentemente, pessoas de paz. Amen.

(Fonte: site Rádio Vaticano)

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Sermão adaptado de S Leao Magno para o Natal (sec 4)


QUARTO SERMÃO NO NATAL DO SENHOR
São Leão Magno, século 4º
(texto adaptado por Paulo F. Dalla Déa e lido em São Carlos, 24/12/2010.

1. Caríssimos, sem dúvida a bondade divina sempre cuidou do bem do gênero humano, e isso de vários modos, e misericordiosamente concedeu os múltiplos benefícios de sua providência a todos os séculos passados;
entretanto, nos últimos tempos, ela ultrapassou toda a abundância da benignidade habitual, a saber, quando em Cristo, a Misericórdia desceu aos pecadores, a Verdade aos desviados, a Vida aos mortos, de modo que o Verbo, co-eterno com o Pai e igual a ele, assumiu a humildade de nossa natureza para uni-la a sua divindade e, Deus nascido de Deus, nasceu, como ser humano, de um ser humano.
É verdade que a promessa foi feita desde a criação do mundo e que a profecia foi constantemente repetida por tantos sinais, atos e palavras; mas que porção da humanidade essas figuras e estes mistérios ocultos teriam salvo, se Cristo, por sua vinda, não tivesse cumprido esses anúncios distantes e velados, e se aquilo que outrora foi proveitoso em promessa para alguns crentes não o tivesse sido, por seu cumprimento, para inúmeros fiéis?
Agora não somos mais conduzidos a fé por sinais e imagens, porque, confirmados pela narração evangélica, adoramos o que cremos realizado; os testemunhos proféticos contribuem para nos instruir, de modo que não temos nenhuma dúvida sobre o que sabemos ter sido anunciado por tão grandes oráculos.
Pois ora é o Senhor que diz a Abraão: “Por tua posteridade serão abençoadas todas as nações”; ora é Davi, que, animado do espírito profético, celebra a promessa divina: “O Senhor jurou a Davi uma verdade, que jamais desmentirá: ‘É um fruto do teu ventre que eu porei em seu trono’ “.
É ainda o mesmo Senhor que diz por Isaías: “Eis que a virgem conceberá e dará á luz um filho, e lhe colocarão o nome de Emanuel, o que”... significa ‘Deus conosco’”.
E em outro lugar: “Um ramo saíra do tronco de Jessé, e uma flor brotará de sua raiz”.
Nesse ramo foi anunciada, sem nenhuma dúvida, a bem-aventurada Virgem Maria, a qual, nascida do tronco de Jessé e de Davi e fecundada pelo Espírito Santo, de seu seio materno, mas num parto virginal, pôs no mundo uma nova flor da natureza humana.
2. Que os justos exultem, pois, de alegria no Senhor, e os corações fiéis, no louvor de Deus; os filhos dos homens proclamem suas maravilhas, porque é principalmente por essa obra de Deus que conhecemos o grande preço que o nosso Criador deu à nossa baixeza.
Ele, que já tinha dado muito ao gênero humano em sua origem, criando-nos à sua imagem, concedeu muito mais em nossa restauração, unindo-se ele, o Senhor, à nossa condição servil.
Sem dúvida, tudo o que o Criador dispensa à sua criatura emana de uma só e mesma bondade; não obstante, é menos surpreendente ver o homem elevar-se até o divino do que Deus abaixar-se até o humano.
Ora, se Deus onipotente não se tivesse dignado fazer isso, nenhuma espécie de justiça e nenhuma forma de sabedoria teriam podido arrancar o homem do cativeiro do diabo e do abismo da morte eterna.
Porque a condenação permaneceria, passando de um para todos com o pecado, e a natureza, corrompida por causa da ferida mortal, não teria encontrado o remédio, incapaz que era de mudar sua condição por suas próprias forças.
Com efeito, o primeiro homem recebeu sua substância carnal da terra e foi animado por uma alma racional que seu Criador insuflou nele, a fim de que, vivendo à imagem e à semelhança de seu autor, conservasse os traços da bondade e da justiça de Deus, numa imitação admirável, que os refletisse como um espelho.
Se Adão tivesse agido com perseverança em conformidade com essa dignidade concedida, observando a lei dada a ele, sua alma, intata, teria conduzido à glória celeste até a parte dele que era seu corpo, tirado da terra.
Mas, em sua falta de reflexão e para sua desgraça, ele acreditou no enganador invejoso e, aceitando os conselhos do orgulho, preferiu apoderar-se do aumento de honra que lhe estava reservado, em vez de merecê-lo;
por isso, não só ele, mas também toda a posteridade que estava nele ouviram esta sentença: “Tu és terra, e para a terra voltarás”.
Portanto, como foi o terreno Adão, tais serão os terrenos seus filhos e ninguém é imortal, porque ninguém é celeste.
3. Para romper essa cadeia de pecado e de morte, o Filho todo-poderoso de Deus tomou em si uma natureza humana, ele, que enche tudo, que contém tudo, que em tudo é igual ao Pai, depois de ter escolhido uma mãe que ele tinha feito e que, salva sua integridade virginal, forneceu-lhe somente a substância de seu corpo; habitariam num homem novo a pureza e a verdade.
Portanto, no Cristo, nascido de uma virgem, mesmo sendo o nascimento admirável a natureza não é diferente da nossa. De modo que, sendo verdadeiro Deus, ele é também verdadeiro homem, sem que haja mentira nas duas naturezas.
“O Verbo se fez carne”, elevando a carne, não diminuindo a divindade; mas elevando nossa natureza. Tomando nossa natureza, nada perdeu da sua, comunicando-a.
No nascimento de Cristo verificou-se a profecia de Davi: “Da terra germinou a verdade, e a justiça se inclinou do céu”.
Nesse nascimento cumpriu-se também a palavra de Isaías: “Que a terra dê seu fruto e faça germinar o Salvador, e, ao mesmo tempo, se levante a justiça”.
A terra da natureza humana, maldita na primeira desobediência, produziu nesse último parto da Santa Virgem um germe abençoado e isento do vício de sua estirpe; sua origem espiritual está adquirida para qualquer um na regeneração, e, para todo homem que nasce de novo, a água do batismo é como o seio virginal: o mesmo Espírito que veio sobre a Virgem vem agora à fonte batismal; assim, o pecado, que foi então aniquilado por uma santa concepção, aqui é tirado pelo banho místico do Batismo.
6. Quanto a vós, caríssimos, aos quais só posso dirigir-me de modo mais conveniente usando as palavras de são Pedro, “raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de sua particular propriedade” (1Pd 2,9), vós, que fostes edificados sobre a pedra inabalável de Cristo, inseridos no Senhor, nosso Salvador, pelo fato de ter ele assumido nossa carne, permanecei firmes na fé que professastes na presença de numerosas testemunhas e na qual, regenerados pela água e pelo Espírito Santo, recebestes a unção da salvação e do selo da vida eterna.
Ademais, se alguém vos anunciar algo diferente do que aprendestes, seja maldito!
Não deis a invenções ímpias o lugar que pertence à verdade luminosa; e tudo o que lerdes ou ouvirdes contrário à regra do símbolo católico e apostólico, considerai como absolutamente mortal e diabólico. (...)
Grande segurança é a fé íntegra, fé verdadeira, na qual nada pode ser aumentado nem diminuído por ninguém, porque, se não for uma, não será fé, segundo o Apóstolo: “Um só Senhor, uma só fé, um só batismo; um só Deus e Pai de todos, que é sobre todos, por meio de todos nós”.
Inseri-vos, caríssimos, com espírito inabalável, nessa unidade e nela “segui toda santidade”; nela cumpri os preceitos do Senhor, porque “sem fé, é impossível ser agradável a Deus”, e sem ela nada é santo, nada é casto, nada é vivo, “porque o justo viverá da fé”; aquele que, enganado pelo diabo, a perder, vivendo, está morto, porque, como pela fé se obtém a vida eterna, como diz o Senhor Salvador: “A vida eterna é esta: que eles te conheçam a ti, o único Deus verdadeiro, e aquele que enviaste, Jesus Cristo”, o qual vos faça progredir e perseverar até o fim, ele, que vive e reina com o Pai e o Espírito Santo pelos séculos dos séculos. Amém.

sábado, 18 de dezembro de 2010

Pe Jair

O Pe. Jair é claretiano, meu afilhado de crisma e vai para Moçambique em janeiro pra trabalhar na missão. A ele, muita saúde e bençãos no trabalho.


 
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