quinta-feira, 22 de abril de 2010

Artigo interessante

O Imbecil Coletivo no ataque à Igreja
Jorge Luiz Baptista Ribeiro | 12 Abril 2010
Artigos - Cultura

Salta aos olhos um misto de cinismo e incoerência no fato de que quem critica a pedofilia o faz baseado na moral cristã.
Peço licença ao professor Olavo de Carvalho para usar a expressão "Imbecil Coletivo", com a qual satirizou a intelectualidade e os pseudoletrados esquerdistas que, ocupando posições chaves para a penetração intelectual e moral no seio da sociedade, desde há muito vem concorrendo para o declínio da vida cultural brasileira.
Agora, o "Imbecil Coletivo" volta em grande estilo na discussão da moda: a pedofilia na Igreja.
É preciso ser muito idiota para não perceber que existe uma campanha global muito bem orquestrada para desmoralizar a Igreja e o Papa.
Não podemos esquecer que a Igreja, embora seja composta por criaturas humanas, portanto, falíveis - teologia da libertação à parte -, ainda é o grande obstáculo às investidas dos ofensores da civilização ocidental: o iluminismo laico, o materialismo, o relativismo moral e até o avanço islâmico, que a estão destruindo.
Com umas poucas perguntas incômodas, podemos demolir os argumentos do imbecil coletivo, "in limine":
Por que tanto se enfatiza como "crime" a pedofilia na Igreja e se silencia sobre a crescente erotização das crianças no resto do mundo?
Por que a mídia não se preocupa em acusar os padres que violam o celibato, quando se sabe que tal ocorrência é milhares de vezes mais frequente que a pedofilia? Um oportuno exemplo é o "bispo" Lugo - o presidente paraguaio que seduziu uma porção de meninas e ficou tudo por isso mesmo. No máximo, chargistas caricaturam tais estripulias sexuais e as notícias a respeito, quando muito, limitam-se aos cantos de página.
Por que ninguém se escandaliza nem denuncia como criminosa a prática sexual vigente em "países" islâmicos como Irã, Palestina e Afeganistão onde meninas com 10 anos de idade são "doadas" para casamentos de conveniências?
Por que o silêncio sobre a perversão sexual de Mao Tse Tung, um dos maiores pedófilos da história? Será por veneração à imagem do "Grande Timoneiro" (e genocida) comunista?
E, sendo Mao - mito comunista - um notório pedófilo, por que ninguém tampouco extrapola a acusação de pedofilia para todos os comunistas, como se estende para a Igreja o mau comportamento de alguns sacerdotes? Será que a máxima dos comunistas brasileiros de que "não comem criancinhas" tem algo a ver com isso?
Falando sério, salta aos olhos um misto de cinismo e incoerência no fato de que quem critica a pedofilia o faz baseado na moral cristã. A pedofilia sempre existiu na história da humanidade. Só passou a ser condenada e combatida sistematicamente com o advento do Cristianismo. Curioso, não? O feitiço contra o feiticeiro.
Desperta curiosidade, também, os clérigos que militam no PT apoiando a luta de classes e os invasores de propriedades privadas não ocuparem as manchetes como violadores de princípios cristãos que pregam a fraternidade e condenam a cobiça dos bens alheios.
Portanto, os inimigos da Igreja utilizam-se de valores cristãos para desmoraliza-la, valendo-se de descabidas generalizações para submeter Sua Santidade, o representante de Cristo e sucessor de São Pedro, à justiça de César. A insistência com que os detratores têm pinçado casos do passado distante para incriminar o Santo Padre nos remete a mais duas perguntas incômodas.
Por que estes "justiceiros" globais nem cogitam levar às barras dos tribunais um daqueles aiatolás que além de terem várias esposas adolescentes ainda mandam matar os opositores do regime?
Por que aqueles que apregoam que, por ser o líder da Igreja, o papa deve responder em juízo pelos "crimes" de uns quantos padres mal comportados se, por outro lado, não concordam que Lula, por ser o chefe do governo e presidente honorário do PT, também deva responder pelos atos criminosos praticados pelos "aloprados" e outros "cumpanheiros" da quadrilha do Mensalão que vivem ao seu redor?
A Igreja tem sua hierarquia, seus códigos e regulamentos e não tem que tratar com publicidade os casos que são denunciados. Será que só ao Vaticano não é dado o direito do "segredo de Justiça"?
Além disso, a Igreja é a instituição do perdão. Se nem a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) - que deveria ser o arauto da Justiça - divulga as violações de conduta dos advogados ou magistrados e ninguém fica indignado por isso, por que a Igreja iria fazê-lo?
Tantos são os argumentos sobre este tema que poderíamos estendê-lo por muitos parágrafos mais e talvez até o assunto ensejasse a edição de um Imbecil Coletivo III, pelo ilustre professor Olavo.
Para não mais cansar o leitor, deixo aqui um último exemplo - a coisa mais idiota que já ouvi nos últimos tempos - e que apenas serve para provar o intento difamatório contra a Igreja.
O senso comum das pessoas cujas psiques tiveram o senso crítico amortecido e posteriormente modificado é que o grande culpado pela endêmica propagação da AIDS na África é a Igreja, já que não aprova o uso da camisinha. Tal argumento embute a premissa de que a camisinha é garantia de não contaminação, o que de per si é falso, mas isso é outra história... .
Agora, bastam dois neurônios e uma única sinapse para um ponto final. Se, como dizem os imbecis, a AIDS se espalha porque a Igreja proíbe a camisinha, então, o corolário que se impõe é que os fiéis nesses países seguem rigorosamente os mandamentos da Igreja. Ora, mas a Igreja também proíbe a pratica sexual antes e fora do casamento; só que a realidade mostra que tal proibição é letra morta. Então, para aquela observação ser verdadeira, o povo teria que ser extremamente seletivo para escolher quais mandamentos vai seguir. Ou seja, transar não pode, mas eu transo. Usar camisinha também não pode, e isso eu respeito porque a Igreja proíbe...
Francamente! Se alguma epidemia há, é a de burrice.
Jorge Luiz Baptista Ribeiro é engenheiro metalúrgico e pós-graduado em Marketing pela FGV.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Artigo do Card. Sherer sobre a pedofilia na Igreja

Muito mais que pedofilia

As notícias sobre pedofilia, envolvendo membros do clero, difundiram-se de modo insistente. Tristes fatos, infelizmente, existiram no passado e existem no presente; não preciso discorrer sobre as cenas escabrosas de Arapiraca... A Igreja vive dias difíceis, em que aparece exposto o seu lado humano mais frágil e necessitado de conversão. De Jesus aprendemos: “Ai daqueles que escandalizam um desses pequeninos!” E de S.Paulo ouvimos: “Não foi isso que aprendestes de Cristo”.

As palavras dirigidas pelo papa Bento XVI aos católicos da Irlanda servem também para os católicos do Brasil e de qualquer outro país, especialmente aquelas dirigidas às vítimas de abusos e aos seus abusadores. Dizer que é lamentável, deplorável, vergonhoso, é pouco! Em nenhum catecismo, livro de orientação religiosa, moral ou comportamental da Igreja isso jamais foi aprovado ou ensinado! Além do dano causado às vítimas, é imenso o dano à própria Igreja.


O mundo tem razão de esperar da Igreja notícias melhores: Dos padres, religiosos e de todos os cristãos, conforme a recomendação de Jesus a seus discípulos: “Brilhe a vossa luz diante dos homens, para que eles, vendo vossas boas obras, glorifiquem o Pai que está nos céus!” Inútil, divagar com teorias doutas sobre as influências da mentalidade moral permissiva sobre os comportamentos individuais, até em ambientes eclesiásticos; talvez conseguiríamos compreender melhor por que as coisas acontecem, mas ainda nada teríamos mudado.


Há quem logo tem a solução, sempre pronta à espera de aplicação: É só acabar com o celibato dos padres, que tudo se resolve! Ora, será que o problema tem a ver somente com celibatários? E ficaria bem jogar nos braços da mulher um homem com taras desenfreadas, que também para os casados fazem desonra? Mulher nenhuma merece isso! E ninguém creia que esse seja um problema somente de padres: A maioria absoluta dos abusos sexuais de crianças acontece debaixo do teto familiar e no círculo do parentesco. O problema é bem mais amplo!


Ouso recordar algo que pode escandalizar a alguns até mais que a própria pedofilia: É preciso valorizar novamente os mandamentos da Lei de Deus, que recomendam atitudes e comportamentos castos, de acordo com o próprio estado de vida. Não me refiro a tabus ou repressões “castradoras”, mas apenas a comportamentos dignos e respeitosos em relação à sexualidade. Tanto em relação aos outros, como a si próprio. Que outra solução teríamos? Talvez o vale tudo e o “libera geral”, aceitando e até recomendando como “normais” comportamentos aberrantes e inomináveis, como esses que agora se condenam?


As notícias tristes desses dias ajudarão a Igreja a se purificar e a ficar muito mais atenta à formação do seu clero. Esta orientação foi dada há mais tempo pelo papa Bento XVI, quando ainda era Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé. Por isso mesmo, considero inaceitável e injusto que se pretenda agora responsabilizar pessoalmente o papa pelo que acontece. Além de ser ridículo e fora da realidade, é uma forma oportunista de jogar no descrédito toda a Igreja católica. Deve responder pelos seus atos perante Deus e a sociedade quem os praticou. Como disse S.Paulo: Examine-se cada um a si mesmo. E quem estiver de pé, cuide para não cair!


A Igreja é como um grande corpo; quando um membro está doente, todo o corpo sofre. O bom é que os membros sadios, graças a Deus, são a imensa maioria! Também do clero! Por isso, ela será capaz de se refazer dos seus males, para dedicar o melhor de suas energias à Boa Notícia: para confortar os doentes, visitar os presos nas cadeias, dar atenção aos abandonados nas ruas e debaixo dos viadutos; para ser solidária com os pobres das periferias urbanas, das favelas e cortiços; ela continuará ao lado dos drogados e das vítimas do comércio de morte, dos aidéticos e de todo tipo de chagados; e continuará a acolher nos Cotolengos criaturas rejeitadas pelos “controles de qualidade” estéticos aplicados ao ser humano; a suscitar pessoas, como Dom Luciano e Dra. Zilda Arns, para dedicarem a vida ao cuidado de crianças e adolescentes em situação de risco; e, a exemplo de Madre Teresa de Calcutá, ainda irá recolher nos lixões pessoas caídas e rejeitadas, para lavar suas feridas e permitir-lhes morrer com dignidade, sobre um lençol limpo, cercadas de carinho. Continuará a mover milhares de iniciativas de solidariedade em momentos de catástrofes, como no Haiti; a estar com os índios e camponeses desprotegidos, mesmo quando também seus padres e freiras acabam assassinados.


E continuará a clamar por justiça social, a denunciar o egoísmo que se fecha às necessidades do próximo; ainda defenderá a dignidade do ser humano contra toda forma de desrespeito e agressão; e não deixará de afirmar que o aborto intencional é um ato imoral, como o assassinato, a matança nas guerras, os atentados e genocídios. E sempre anunciará que a dignidade humana também requer comportamentos dignos e conformes à natureza, também na esfera sexual; e que a Lei de Deus não foi abolida, pois está gravada de maneira indelével no coração e na consciência de cada um.


Mas ela o fará com toda humildade, falando em primeiro lugar para si mesma, bem sabendo que é santa pelo Santo que a habita, e pecadora em cada um de seus membros; todos são chamados à conversão constante e à santidade de vida. Não falará a partir de seus próprios méritos, consciente de trazer um tesouro em vasos de barro; mas, consciente também de que, apesar do barro, o tesouro é precioso; e quer compartilhá-lo com toda a humanidade. Esta é sua fraqueza e sua grandeza!


Card. Odilo P. Scherer, Arcebispo de São Paulo

Artigo publicado em O ESTADO DE SÃO PAULO, ed. 11. 04.20