sexta-feira, 21 de junho de 2013

Lógica dos fatos da multidão que toma conta do Brasil

Como todos os meus amigos sabem, no começo do ano fui pro Canadá fazer um pós-doc. Fiquei lá 4 meses e voltei por razões financeiras. É muito difícil se manter num lugar assim apenas rezando missas e sem bolsa do Governo, do CNPQ ou da diocese. Infelizmente para a CNPQ e o Governo, a área de humanas não é ciência. Não interessa que pesquisadores das humanas se qualifiquem, afinal um povo burro e dominado é um bom povo para se governar. Infelizmente (e com vergonha digo isso) pra minha diocese vale o mesmo raciocínio: um bom padre não é um padre que se qualifica, mas alguém submisso ao poder do bispo e sujeito às fofocas dos círculos eclesiásticos dominados pela inveja e pelo carreirismo.
Ainda bem que o Papa Francisco anda batendo forte nisso, mas creio que ainda assim vai demorar umas décadas pra mudar essa cultura entre os padres diocesanos...
Bem, voltei ao Brasil e estou orgulhoso de estar aqui em meio aos protestos que estão acontecendo. Embora esteja mais vendo pela TV do que participando efetivamente (participei do Diretas Já e do Fora Collor, já como padre), quero dizer aqui o que estou vendo. Até que enfim o povo acordou e não está mais mudo. Um povo mudo não muda a realidade. É preciso que nossos políticos ouçam as vozes das ruas que eles representam.
Como não estou mergulhado no movimento (que é de jovens indignados) posso ver mais de longe e com mais horizonte.
Fora a manipulação da mídia, tenho visto que os quebra-quebra parecem seguir uma lógica. Estão sendo quebrados: ministérios e prefeituras  símbolos de que a população está indignada com a administração política e corrupta do patrimônio público.
Tenho amigos e parentes na polícia e estou vendo a corda bamba em que estão se equilibrando: tendo que baixar o pau nos manifestantes, muitos seus parentes e conhecidos. Nunca tinha visto tanta polícia na rua. De onde saiu tanta gente? Dos quarteis?
Depois dos prédios públicos, os manifestantes mais exaltados tem voltado sua ação depredativa para: pedágios, ônibus, sinais de trânsito e radares. Símbolos de uma mobilidade urbana que não existe ou existe apenas pra quem tem carro. O cúmulo dessa lógica perversa eu vi na Ponte Espraiada de São Paulo: inaugurada faz pouco tempo, não foi concebida pra passar mais do que carros. E as bicicletas? e os pedestres? E os ônibus? E o metrô? Nada: a mobilidade urbana só existe (e precariamente porque as estradas e ruas são péssimas) para quem tem carro. O ideal mesmo é ter helicóptero nesse país.
Pra onde vai tanto imposto relacionado aos carros, às suas peças, ao IPVA, CID e tanta coisa? É um roubo mesmo que fazem a todos em todos os momentos.
Sem contar que parte da tarifa de ônibus (não posso provar, mas desconfio) vai para propinas com os políticos eleitos. Se não fosse isso, como justificar empresas de ônibus que há mais de 30 ou 40 anos estão em cidades onde o seu serviço é precário, sujo, ruim e caro?
O movimento atual tem poucos vândalos. Mas os governantes estão com o C*** na mão, porque o movimento me lembra a Queda da Bastilha, início da Revolução Francesa que mandou pra guilhotina reis, rainhas, condes e duques (também bispos e padres) que estavam envolvidos com corrupção e má administração.  Basta saber um pouco mais de história. Claro que a Revolução Francesa teve muitos excessos e que a Igreja nunca a reconheceu, preferindo até hoje o regime monárquico.( O papa ainda é um rei de direito absoluto.) Mas se alguém não quiser nunca errar, não fará nada.
Espero que a lógica das ruas seja entendida pela mídia e pelos políticos, porque o povo não vai desenhar para os seus governantes. Espero que a mobilização indignada permaneça e se expresse nas urnas. Não há manipulação midiática que resista à uma Internet livre.
Espero que o governo e a Igreja entendam o ditado antigo: a voz do povo é a voz de Deus e a escutem. Será que nós das Igrejas não estamos muito nas sacristias e nos púlpitos, sem fazer companhia para o povo (que é de Deus)? Hoje a voz de Deus está se manifestando nas ruas e na organização feita a partir do Facebook e do Twitter. E onde está nossa fé que não nos empurra para o meio do movimento? Temo que a história seja implacável mais uma vez conosco, que vivemos do medo. Jesus disse aos seus apóstolos: Coragem, não temais. Estou cm vocês!
Bom dia indignado a todos os que saem do Facebook e estão indo pras ruas.

#vaiprarua #VerásQueUmFilhoTeuNãoFogeÀLuta  #mudaBrasil #OGiganteAcordou #SemViolencia


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