SOBRE A RENÚNCIA DO PAPA: O QUE PENSAR PARA FRENTE?
Pe. Paulo F. Dalla-Déa, teólogo
Gostaria de
abordar a questão sob dois momentos: sobre as pistas que ele estava dando e
sobre o que pensar sobre a Igreja daqui pra frente.
1. Em
julho de 2012, fui a Roma. Lá se falava à boca pequena que o Papa iria tirar
mais de um mês de férias de verão para tratar da saúde. Nessa ocasião já se
comentava entre o clero se o câncer que ele tinha há 15 anos não teria
voltado. Um mês antes, eu já tinha visto
que ele tinha dado uma entrevista em que dizia que um Papa que não tivesse mais
condições de governar deveria renunciar e até teria o dever moral de fazê-lo.
Logo que cheguei ao Brasil, me deparei com uma notícia de um vazamento de
informação sobre a renúncia do Papa no prazo de um ano. Isso veio um pouco
antes do escândalo do mordomo do Papa ter sido pego com informações
confidenciais. Teorias de conspiração à parte, creio que os sinais já estavam
aí. Hoje a Sala de Imprensa do Vaticano anunciou que a decisão foi tomada na
viagem a Cuba, ano passado.
A maior
dificuldade de se analisar os fatos sobre o Vaticano não é sobre o que se fala
ou se publica, mas ter sempre que analisar os silêncios do que acontece. O
Vaticano é conhecido pelas entrelinhas dos seus discursos. Se você tiver a
oportunidade de ver o vídeo do anúncio do Papa Bento XVI, dê uma olhada na cara
de satisfação que estão os cardeais perto dele: eles estão bem satisfeitos com
a escolha que fizeram. Agora, a cara de todos (incluindo eu) é de perplexidade.
Hoje, 11 de fevereiro é o DIA MUNDIAL DE
ORAÇÃO PELOS DOENTES. Por causa do dia (não foi mera coincidência, mas
escolhido), eu creio sim que o Papa Bento possa ter alguma doença que o
impossibilite e que será – posteriormente – divulgada. Para o Vaticano, o Papa
é perfeitamente normal até o dia que morre.
Quando ele foi
eleito, falava-se de um papado de transição. Esperava-se que ele morresse logo,
o que não aconteceu. Ele reinou por mais de sete anos. Agora se pode dizer que
o pontificado dele foi de transição sim, apenas não se poderá dizer que não foi
um tempo atribulado. Nesses anos, muitos escândalos pipocaram a Igreja e ele se
comportou de forma exemplar: legislou e mudou a política de silêncio do
Vaticano. Agora, a ordem é denunciar e punir: política de tolerância zero com
os culpados e colaboração com as autoridades. Claro que – por causa disso – ele
pagou um preço: há alas de Cardeais e Arcebispos que não se conformam (claro
que ninguém discorda de maneira aberta no Vaticano). Para mim, é claro também
que o episodio da prisão do seu Mordomo está envolvido nos fatos.
Na ocasião da prisão
do mordomo, Bento XVI afirmou publicamente várias vezes que confiava cegamente
nos seus colaboradores. A insistência foi tanta que comecei a desconfiar. Creio
que tudo isso junto, acabaram compondo o quadro de falta de energia (corporal e
moral) para continuar.
Nem é surpresa
para ninguém que rei deposto, rei posto. Agora os Cardeais que já estavam
querendo o posto (o sonho de um cardeal é tornar-se Papa) vão se digladiar
silenciosamente nos bastidores. Fico pensando que – como a maioria dos atuais
cardeais foram feitos por Bento XVI – se ele não vai ser o grande eleitor, que
vai dar as cartas, influenciando os votos mesmo sem entrar na sala do Conclave.
2. Creio
que agora, além de rezar e esperar, podemos começar a observar o movimento. Já começaram
a falar de nomes: italianos, canadenses, americanos, brasileiros, nigerianos estão
na lista. Podemos esperar um Papa mais novo, mais extrovertido e mais midiático.
Bento XVI muitas vezes falou que os rituais da missa não poderiam se tornar um
show, mas incentivou o uso de mídias eletrônicas como forma de evangelização. Então,
é justo que o novo Papa seja alguém bem inteirado nisso.
Também se pode
esperar alguém que – além de se preocupar com a Europa – queira se preocupar
com os jovens. Não só com a Jornada Mundial da Juventude desse ano, mas que
queira incentivar a participação de jovens nas comunidades cristãs. Por isso,
creio que a escolha deverá ser por um cardeal de um continente que não seja a
Europa, alguém proveniente de uma igreja mais jovem. Quase estou apostando que
a escolha será entre América do Norte ou África.
A eventual
escolha de um Cardeal oriental, ligado aos Ortodoxos, não me parece uma escolha
estranha, mas se revelaria interessante para resolver problemas de debate com o
celibato ou com a ordenação das mulheres. Para quem não sabe, os Ortodoxos
nunca abandonaram a ordenação de diaconisas. Veja-se a Igreja Sirian, com sede
em Antioquia. Acho essa hipótese pouco provável, mas não quero deixar de
mencionar.
Para a juventude
e para as igrejas mais jovens, creio que essa será a oportunidade da vida. Mas,
antes de mais nada, nosso papel agora é rezar para que o Divino Espírito Santo
de fato ajude os Cardeais a escolherem. Reflito aqui as possibilidades humanas,
mas quero lembrar que – qualquer que seja o resultado – o Papa eleito merece
nosso respeito e nossa adesão na fé. A figura do Papa é a figura de uma pessoa
que deve aglutinar a Igreja Católica: figura visível da unidade e do amor dos
católicos entre si e para com Jesus Cristo. Análises humanas devem e serão feitas,
o que precisamos agora é de uma atitude de fé, transcendendo todo calculo
humano que possa ser feito agora.
O momento da eleição
de um novo Papa é sempre um momento especial de Deus (um KAIRÓS = tempo de
graça), pois é Deus que governa o seu povo, mesmo debaixo dos disfarces das
políticas e dos jogos de poder humanos. Quem esquece isso fica sem o essencial
na Igreja.
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