Segunda Redação das PROPOSITIONES e Testemunhos
Os
antigos diziam: Motus in fine velocior
- o movimento no final é mais veloz. É o que acontece também no Sínodo. No
final as coisas se precipitam. Hoje foi um dia intenso durante o qual
desanuviaram-se alguns receios e temores, dando lugar a um pouco mais de
esperança de que houve progresso em alguns pontos e não regresso, como até
ontem parecia.
Dom
Giuseppe Betori, arcebispo de Florença, iniciou pela manhã a apresentação da
2a. redação da Mensagem, por ser seu
relator. Disse que foram mais de 300 sugestões apresentadas. Dada a aprovação
maciça da primeira redação, agora foram integradas as observações que não
alteravam a estrutura e o conteúdo essencial. Foram eliminadas as repetições e
alguma retórica (na verdade, esse trabalho eu já havia feito na síntese que enviei nas crônicas 13, 14 e
15). Assim sendo, o texto propriamente ficou muito semelhante àquele já enviado.
Algumas
observações: o trecho sobre as comunicações
sociais (estava no no. 4 e foi para o no. 10) ficou mais ampliado. O no. 6
foi completamente reformulado acentuando mais o fenômeno da secularização e
dando maior importância ao fenômeno da presença do estado na vida moderna
(hegemonia estatal), com os desafios de aí advindos para a evangelização. O no.
7 dedicado à família teve acréscimos, porém a expressão "comunhão
eclesial... que não é negada aos casais de segunda união", foi mudada por:
"continuam sendo membros da Igreja, embora não possam receber a absolvição
sacramental nem a Eucaristia". Os no.s 8 (religiosidade popular) e 9
(jovens) foram ampliados. As maiores modificações foram no longo no. 10 (o Evangelho em diálogo com a cultura e a
experiência humana e as religiões), no no. 13 (Igrejas Orientais Católicas).
Sobre os continentes: no texto sobre a África
foi mais bem aproveitada a imagem da família;
América Latina: separou-se o tema "pluralismo religioso" do tema "violência";
Ásia: acrescentou-se que aí encontra-se a Terra
Santa; Europa: ao invés de dizer "continente ferido durante decênios
pelo poder comunista" preferiu-se falar em "decênios de poder de
ideologias inimigas de Deus e do homem".
A
leitura da nova redação da Mensagem foi
distribuída nas 5 línguas oficiais; como o português não é língua oficial, mas
para dar importância ao Brasil, foi pedido a Dom Sérgio Rocha, arcebispo de
Brasília, para ler o texto referente à América Latina; seu castelhano estava
excelente...
Um
novo e longo aplauso foi interpretado como aprovação integral da Assembleia à
nova redação. Essa segunda leitura do texto inteiro da Mensagem permitiu apreciar melhor sua beleza e oportunidade, embora
ainda permaneça um pouco longo... Mas creio que vale a pena: é um texto que
manifesta as grandes linhas de reflexão desenvolvidas durante o Sínodo.
Já
o texto das proposições, continua a ser guardado a sete chaves. Como informei,
sua primeira aparição foi apenas em inglês e num latim bastante clássico e
difícil; mas, pelo menos, todos os participantes tinham o texto impresso. Hoje
não: apenas os bispos (ou seja, aqueles que votam) receberam o texto unicamente
em latim. E foi-nos chamada a atenção sobre o que está escrito na primeira e segunda
capas: sub secreto, texto sob
segredo, reservadíssimo. O Secretário Geral, Dom Eterovic, reclamou que
conteúdos substanciais foram parar em blogs na internet... Daí também porque,
em crônicas anteriores, não desci a detalhes, mas apresentei apenas os 57
títulos.
A
segunda versão de hoje trazia 58 Proposições (conforme informou o Relator; não
sei qual proposição foi acrescentada, pois não tive acesso ao texto!). Foram
lidas as primeiras 34: uma leitura meio monótona, com o carregado sotaque
americano do Relator Principal e o
sotaque francês do Secretário Especial...
Houve momentos em que os roncos de alguns dorminhocos se fizeram ouvir...
acompanhar a leitura de um texto em latim, sem tê-lo na frente, e também sem os
conhecimentos das clássicas construções latinas... não há quem resista! Deve-se
reconhecer, entretanto, que Dom Donald W. Wuerl e Dom Pierre-Marie Carré
fizeram o trabalho hercúleo de preparar, no espaço de um dia e meio, quando
muito, a integração de 529 propostas de modificações apresentadas pelos 12
grupos. Um dos que ouviam atentamente, e até fazendo observações escritas no
texto, sem pestanejar, era Bento XVI, para quem, naturalmente, o latim é tão
familiar quanto o alemão!
Por
sorte eu havia trazido a primeira versão, apresentada três dias atrás, e pude
acompanhar, percebendo e anotando as várias alterações, supressões, acréscimos que
foram introduzidos, e, graças a Deus, sempre para melhor! Foram poucas as
proposições que não foram retocadas. Quando se chegou ao no. 29, aquele que
falava unicamente do catecismo sem
nomear a catequese nem os catequistas, tive que me conter para não manifestar
minha surpresa e alegria. O texto foi totalmente remodelado, acrescentando uma
frase sobre a catequese e outra sobre os catequistas, bastante significativa,
que eu havia apresentado em meu grupo (através de Dom Odilo, como disse ontem)
e que certamente recebeu a pressão de vários outros grupos. Mas minha surpresa
não parou aí; veio embutida também uma citação do documento Ministeria Quaedam de Paulo VI sobre a
reforma dos ministérios ordenados, dando uma pequena abertura para a
instituição do ministério da catequese!
Vários
membros de meu grupo, inclusive o bispo relator, Dom Renato Blázquez Pérez,
vieram me manifestar a satisfação por verem nossa proposta aceita. Foi uma
verdadeira vitória: a catequese, dentro do quadro geral da Nova Evangelização,
estava suficientemente salva. Diante dessa vitória, nem dei importância à outra
proposta que havia feito sobre a alteração da ordem de apresentação dos
assuntos e que não foi aceita. Continua,
pois, valendo a observação da Ir. Beatriz Casiello (SCALA): "Me llama la atención la falta de orden de la
3ra.parte". Procurei corrigir, mas… não
deu!
No
final da leitura dos 32 números, Dom Nikola Eterovic pediu aos bispos que levassem
o texto para completarem individualmente a leitura e já assinalarem nos
respectivos lugares, o próprio voto: Placet
(positivo), Non Placet (negativo).
O
dia foi completado pelos 16 discursos (ainda!) de ouvintes que pediram a palavra e não puderam falar até hoje. O
primeiro a falar foi o Patriarca Ortodoxo da Sérvia, Dr. Irinej, Bispo de
Backa. Falou muito bem, denunciando o ritualismo e formalismo da catequese na
Igreja Ortodoxa; falou de "cadáveres espirituais" dentro da Igreja e
que "a Nova Evangelização se faz necessária primeiramente dentro da
própria Igreja". Falou também a sucessora da Bv. Madre Tereza de Calcutá, Ir.
Mary Prema Pierick, sobre a NE junto
aos pobres. Chamou a atenção vários testemunhos de vida cristã dados por leigos
e leigas principalmente em países de pouca tradição cristã, ou que vivem
situações difíceis, como em Cuba ou em países mulçumanos. Dois participantes do
Movimento Focolari falaram da própria
forma de evangelizar entre os excluídos e marginalizados da sociedade nesses
ambientes.
A
Superiora Geral das Filhas de Maria Auxiliadora, madre Ivone Reungoat, falou da
dimensão evangelizadora da vida religiosa: "não devemos ser somente
crentes, mas críveis". Acentuou também o caráter pedagógico da evangelização
e a "necessária mediação cultural e
educativa capaz de entrar nos cenários do mundo contemporâneo para oferecer
aos jovens e aos mais pobres propostas de crescimento humano e cristão". O
Dr. Simón Castellví, presidente da Federação Internacional das Associações
Médicas Católicas, denunciou as tramas abortistas da fundação Bill Gates e fez
a proposta de um "plano Marshall a
favor da maternidade" e defendeu uma maior "atenção obstétrica
básica" às mães pobres. E iríamos longe, se fossemos retratar a riqueza e
variedade desses últimos pronunciamentos do Sínodo, embora não vão influenciar
em nada os dois documentos já prontos, a Mensagem
e as Propositiones.
Amanhã teremos
as duas últimas sessões, com aprovação formal das 58 proposições, e no domingo,
a solene conclusão com a grande concelebração eucarística na Basílica São
Pedro, presidida pelo Papa Bento XVI.
Roma, 26 de Outubro de 2012, Quinta feira.
Pe. Luiz Alves de Lima,
sdb.
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