Trabalho nos Círculos Menores (Grupos)
Hoje
não ouve plenário. Todo o dia foi dedicado à discussão das 57 proposições nos
12 círculos menores, também chamados grupos linguísticos, pois nos reunimos por
línguas que previamente havíamos escolhidos. Como já disse, fui como assessor
no grupo Hispanicus A, bastante
numeroso. A maioria era da América Latina (do Brasil estávamos Dom Odilo, Dom
Geraldo Lírio e eu), alguns europeus (espanhóis) e outros de países africanos
que falam português (Angola, Moçambique, São Tomé e Príncipe...).
Continuou
a reclamação da falta de uma tradução em língua mais compreensível já que
dispomos apenas do inglês, traduzido para o latim extremamente clássico e
difícil. Frequentemente era necessário recorrer ao inglês para entender o latim
e vice versa: às a tradução latina expressava melhor a ideia do que o original
inglês, ou a ideia estava melhor expressa em inglês que o latim. Eu mesmo tive
a oportunidade de corrigir um título que trocava Ministerium por ministrum...
As
normas dadas para as discussões nos grupos linguísticos eram bastante rígidas.
Não podíamos fazer propostas individuais por escrito; qualquer proposta deveria
ser discutida e aprovada por maioria relativa, caso contrário não era aceita.
As sugestões seriam apenas para "aperfeiçoar" os textos, sem mexer em
seu sentido substancial nem na estrutura. Deveriam se restringir a mudar
palavras, fazer citações e fazer pequenos acréscimos para melhorar a ideia já
expressa. Como se vê, a redação das 57 proposições apresentadas nessa brochura
intitulada "Elechus unicus propositionum" já vinha quase como pronta.
O relator do grupo deveria tomar nota de tudo e levar para a reunião dos 12
relatores dos grupos amanhã, junto com a presidência, para elaborarem a redação
final.
Apesar
de tantas restrições, o nosso grupo trabalhou a tarde de ontem, e nos dois
períodos de hoje, manhã e tarde. Foi uma discussão bastante boa. Aparecia, como
já havia sido notado, alguma diferença de experiências e mentalidades entre
latino-americanos e africanos, e os europeus (espanhóis). Quando eu apresentei
a proposta de trocar o título do no. 29 de "Catecismo" para
"Catequese, catequistas e Catecismo", o mundo veio abaixo... protesto
geral, pois o que o Sínodo queria era acentuar o valor do Catecismo da Igreja Católica e urgir o seu uso na catequese. Argumentei
sobre a prevalência da fides qua (resposta
pessoal, adesão à pessoa de Jesus) sobre a fides
quae (conteúdo, doutrina), mas fui voto vencido. E o pior é que, em todo o
Elenco das 57 proposições, não se fala da catequese
em si explicitamente, nem dos catequistas.
Alguém disse que o texto já falava dos leigos em geral, e isso bastava...
imaginem!
A
questão do ministério dos catequistas definitivamente
não passou, pelo menos no meu grupo. E no Plenário também eu já havia sentido
uma resistência a essa ideia... Soube, por outras vias, que no neo-catecumenado os catequistas às vezes
passam por cima da autoridade do padre e querem extrapolar seus limites. Daí o
medo de alguns em reforçar tal realidade se por acaso a catequese fosse
reconhecida como ministério...
A todo momento eu dizia que
determinado assunto estava fora de lugar... aliás, comentando minha crônica de
ontem, alguns já me fizeram essa observação, através de e-mails,
particularmente no cap. III. Então o Moderador (coordenador do grupo) pediu que
eu fizesse, ao final, uma proposta e apresentasse no final da tarde por escrito
uma nova disposição dos 15 números. Foi o que fiz, redistribuindo a matéria da
seguinte ordem: 01 Liturgia; 02 Paróquias e outras realidades eclesiais; 03
Iniciação Cristã e NE; 04 Sacramento da Confirmação e a NE; 05 Catequese com
Adultos; 06 Catecismo; 07 Sacramento da Penitência e NE; 08 Domingos e Festas; 09
Teologia; 10 Educação; 11A dimensão contemplativa da NE; 12 NE e opção pelos
pobres; 13 Peregrinações e NE; 14 Enfermos; 15 Pontifício Conselho para
promover a NE.
A proposta foi aprovada. E também
aproveitei para pedir a mudança do título 06 Catecismo, por Catequese, Catequistas e Catecismo. Como
disse, em nenhum lugar se fala dos catequistas nem da catequese explicitamente.
Com o apoio de Dom Odilo Scherer, Arcebispo de São Paulo, (a palavra de um
cardeal pesa muito), conseguimos acrescentar nesse mesmo número, um parágrafo
sobre o catequista, através de uma citação do Instrumento de Trabalho e modificando o título desse no. 6 para: Catequistas e Catecismo... O texto
poderia ser muito mais aperfeiçoado, mas foi o que conseguimos. O trecho
acrescentado foi:
"Os catequistas são testemunhas diretas e evangelizadores
insubstituíveis que representam a força basilar das comunidades cristãs. Têm
necessidade que a Igreja reflita com maior profundidade sobre a sua missão,
dando-lhes maior estabilidade, visibilidade ministerial e formação" (Instrumentum Laboris 108).
Outros temas bastante discutidos e
com modificações aceitas e integradas no texto foram: as relações entre fé e
ciência, um pedido para a Santa Sé que dê orientações mais claras e precisas sobre a situação de
casais de segunda união ou canonicamente irregulares, inspirando-se na tradição
da Igreja Ortodoxa e de outras igrejas cristãs; o texto sobre as
comunicações foi muito mais ampliado, não ficando apenas no uso instrumental, mas entrando na
cultura midiática gerada ultimamente; deu-se maior importância às universidades
e escolas católicas. O texto sobre a Liturgia foi muito mais ampliado e
completado, graças à rica contribuição de Dom Geraldo Lírio, arcebispo de
Mariana (MG).
Sobre a ordem e sequência dos sacramentos da iniciação
para os batizados na infância (batismo, crisma, eucaristia, ou eucaristia e
crisma) o texto saiu pela tangente, citando novamente a Sacramentum Caritatis e remetendo o
problema para as dioceses e conferências episcopais.
Os trabalhos dos grupos terminaram
um pouco mais cedo, de modo que todos puderam retornar antes do horário
previsto, para suas residências, menos os 12 relatores dos círculos menores,
que se reunirão com a equipe encarregada de unificar as preposições. Eles
passarão amanhã todo o dia reunidos e trabalhando na segunda redação das Proposições
para apresentá-las na sexta feira, quando haverá uma votação. Os outros,
ganharemos um dia mais de vacat, ou
seja de tempo livre durante toda a quinta feira.
Ontem ouve a votação definitiva para
a composição do Conselho do Sínodo, que irá ajudar o Papa a redigir a exortação
apostólica sobre a Nova Evangelização,
objeto de nossas reflexões e, depois, preparar o próximo Sínodo (2016 ou 2017).
Foram 15 eleitos, três por continente. Para o continente americano foram eleitos:
Dom Odilo Pedro Scherer, Cardeal Arcebispo de São Paulo (Brasil), Dom Santiago
Jaime Silva Retamales, Bispo Auxiliar de Valparaiso (Chile) e Secretário Geral
do CELAM e o Card. Timothy Michael Dolan, Arcebispo de New York (EUA).
Roma, 24 de Outubro de 2012, Quarta feira.
Pe. Luiz Alves de Lima,
sdb.
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